A trilha de cena se caracteriza por um recurso articulatório, quando então existe a necessidade de oferecer um contraste visual. Trata-se de uma intervenção da música a partir da presença de algum aparelho sonoro. O filme pode contar com sua trilha original, mas muitas vezes uma determinada cena para invocar a presença de uma música, apenas isso seria justificável a partir de um equipamento como toca discos ou mesmo um rádio. Contudo, este recurso quase sempre não se repete, exceto quando a própria história que está sendo contada possa justificar.
Um exemplo, quando a história contribui para a inserção do equipamento sonoro, pode ser dado através da comédia francesa O QUE EU FIZ PARA MERECER ISSO. O personagem Michel finalmente encontra um vinil do seu grande ídolo Neil Youart, o gênio do clarinete. O maior desafio que ele vai enfrentar é encontrar um momento de tranquilidade para colocar o disco para tocar. O cineasta Patrice Leconte contou com a trilha de acompanhamento de Eric Neveux, mas a grande espera no filme é para o momento de ouvir o disco que Michel comprou.
Temos outras situações em que a música de cena acaba plenamente justificada, como por exemplo no filme RAIN MAN, quando os irmãos Charlie ( Tom Cruise) e Raymond ( Dustin Hoffman) enfrentam o tédio da estrada e ligam o rádio do carro para romper o silencia.
Por fim, um outro exemplo soberbo da “trilha de cena” para o filme ATLANTIC CITY de 1980, quando o personagem Lou interpretado por Burt Lancaster observa pela janela do seu apartamento, a vizinha Sally ( Susan Sarandon) que higienizando o corpo com um limão, ela liga o rádio, como que procurando um fundo musical para temperar aquela cena da óperaNORMA de Bellini a bonita Casta Divana voz de Elizabeth Harwood. Então toda vez, que estiver assistindo a um filme e de repente um aparelho eletrônico introduzir a música na cena, saiba então que esse será sempre um recurso que pode ser utilizado, entre outros motivos para que o personagem procure povoar a sua solidão com um fundo musical.