ZORBA, O GREGO (1964)

Enviado por admin em seg, 10/02/2017 - 15:10
Trilha sonora original do filme Zorba, O Grego composta por Mikis Theodorakis

Quando se trata de uma música nacionalista para uma determinada trilha sonora, nada melhor que um compositor cujas raízes estejam ligadas ao palco das filmagens. O cineasta Michael Cacoyannis, na maioria de seus filmes, contou com a colaboração de uma grande expressão da música grega, Mikis Theodorakis. Em ZORBA, O GREGO, mais uma vez Theodorakis oferece uma demonstração de seu grande talento. A música cumpre um papel extremamente importante auxiliando a narrativa e imprimindo um ritmo capaz de oferecer uma alegoria rica e construtiva dentro da história contada na tela.

O auge dessa realização acontece em razão da clássica cena em que o personagem interpretado por Antony Quinn ensaia os passos de uma dança chamada Sirtaki, que acaba batizada de “Dança de Zorba”.

A trilha sonora de ZORBA, O GREGO apesar de indicada ao Globo de Ouro e também ao Grammy, não levou prêmio, mas seguramente marcou época.

Mikis Theodorakis nasceu na ilha de Chios, no dia 29 de julho de 1925, durante muitos anos a família viveu numa pequena localidade chamada Mitiène, próximo a ilha de Lesbos. Em 1929, a família muda para Atenas, onde se fixa definitivamente. Desde sua época de estudante, Mikis sempre esteve envolvido em atividades políticas. Na escola participava do coral, já que tinha boa voz, ao mesmo tempo em que era o primeiro violino da pequena orquestra. Por volta do ano de 1937, quando tinha doze anos, mostrava todo o seu talento arvorando a compor suas primeiras peças eruditas.

A turbulência começa com a invasão dos italianos na Grécia em 1941. No dia 25 de março de 1943, Mikis é preso e torturado pela primeira vez, ele que já pertencia ao Partido Comunista Grego. Com o fim da Segunda Guerra, retoma os estudos de música no Conservatório de Atenas, e em 1953 é convidado pela cineasta Maria Plyta para compor a sua primeira trilha sonora para o cinema, por ocasião do filme EVA. No ano de 1954, Theodorakis vai a Paris, buscando aperfeiçoar os estudos, foi quando estudou composição com Olivier Messiaen e regência com Eugene Bigot. Em 1955, ele compõe uma Sonatina para Piano que é apresentada pela primeira vez na Escola Nacional de Música de Paris. Uma bela página musical erudita composta por Theodorakis foi a Suíte para Piano e Orquestra, tendo como solista o pianista francês Jean Viguet. Nesta época, o compositor aceita um convite para compor uma delegação da Grécia que foi a Moscou participar de um Festival. Theodorakis continuava se dedicando à música erudita, mas não desprezava o cinema. Em 1962, pela primeira vez ele trabalhou com o diretor Michael Cacoyannis em ELEKTRA, filme estrelado por Irene Papas. Depois desse primeiro trabalho com Cacoyannis, dois anos mais tarde, em 1964, viria então o filme ZORBA, O GREGO, interpretado por Anthony Quinn, que serviu para oferecer uma consagração plena a esse grande expoente da música grega. Com esse trabalho ele ganhou vários prêmios e tornou-se mundialmente conhecido.

Foi em 1965 que acontece a queda do Rei Constantino e o exército grego fica em estado de alerta. Em meio a toda essa turbulência social e política da Grécia, Theodorakis ainda encontrava inspiração para continuar compondo para o cinema, nesse fogo cruzado surge seu terceiro trabalho para o cineasta Michael Cacoyannis em QUANDO OS PEIXES SAEM D’ÁGUA.

No dia 21 de julho de 1967, tão logo o seu novo trabalho começava a aparecer nas telas do cinema, Theodorakis era preso no quarto andar da polícia grega, em Atenas. Papadopoulus é nomeado primeiro ministro e Theodorakis continuava preso e trabalhando, foi na prisão que ele compôs “On Cristmas Eve”. Morre o primeiro ministro George Papandreau e Theodorakis acaba transferido de prisão, ele vai para o norte da Grécia na prisão de Oropos. Enquanto isso, vários artistas em todo o mundo iniciam manifestos de apoio pela libertação de Theodorakis, dentre eles a atriz grega Melina Mercouri, o compositor inglês John Barry, o compositor russo Shostakovitch e o maestro Leonard Bernstein, lançando vários movimentos de solidariedade. Mediante a intervenção de várias autoridades da Escandinávia, Theodorakis, que estava doente, foi transferido para um hospital para tratar uma tuberculose. Ainda preso, ele compõe a trilha sonora do filme Z, dirigido por Costa Gavras.

Ao partir para o exílio em 1970, Theodorakis já era considerado um líder da resistência grega. Ele continuava trabalhando ativamente para o cinema, sendo que em sua passagem por Paris, reencontra Costa Gavras que filma ESTADO DE SÍTIO, mais uma vez, Theodorakis demonstra sua enorme competência no trato de filmes de conotação política. ESTADO DE SÍTIO deveria ter sido o 1º filme a ser exibido no recém-inaugurado Centro de Artes Performáticas John F. Kennedy, localizado em Washington, mas teve sua exibição cancelada devido ao seu tema ser considerado inapropriado para a ocasião. O cancelamento gerou uma grande polêmica nos Estados Unidos, o que fez com que uma emissora de TV de Washington comprasse seus direitos de exibição e o exibisse sem cortes.

Aproveitando o enorme prestígio internacional conquistado, o compositor grego Mikis Theodorakis vai trabalhar para o cineasta Sidney Lumet, por ocasião do filme SERPICO. O desafio de Mikis Theodorakis, ao compor a trilha sonora do filme,  foi que pela primeira vez ele abandona suas raízes gregas e incursiona pelo ritmo jazzístico.

Em 1974, finalmente Mikis Theodorakis obtêm autorização para retornar à Grécia onde é recebido como herói, a constituição de 1952 havia sido restabelecida. Depois de sete anos, Theodorakis tem a oportunidade de realizar o seu primeiro concerto na Grécia. Em 1975, ele inicia uma tournée pela Grécia com um refinado repertório. Em 1977, ele empreende uma excursão por vários países da Europa, mostrando a sua música para o cinema. Ainda no ano de 1977, mais uma vez juntos, Theodorakis e Cacoyannis, desta vez para o filme IPHIGÊNIA, estrelado por Irene Papas.

O sangue da política continuava correndo nas veias de Thoedorakis, junto com a inspiração para compor para o cinema. Em 1978, ele se lança como candidato independente nas eleições municipais de Atenas, acaba recebendo 16% dos votos. No ano seguinte, em Paris, Theodorakis pública uma declaração de apoio e solidariedade ao Partido Comunista Francês. Em 1980, volta a Paris para cumprir um exílio espontâneo. François Mitterand convida Theodorakis para a sua posse. Enquanto isso em seu país, a Grécia, as coisas começaram a melhorar, já que sua amiga Melina Mercouri é escolhida para ministra da Cultura. Dedicando-se a sua carreira erudita, em 1987, Theodorakis assiste à primeira apresentação do ballet Zorba o Grego, no teatro Arena de Verona, Itália. Em 1991, Theodorakis inicia na Grécia uma grande campanha contra as drogas, sendo que neste mesmo ano ele compõe a opera MEDEA. Em 1994, ele perde sua grande amiga, a atriz Melina Mercouri, que morre em Nova Iorque, vítima de câncer. Em 1994, Theodorakis inicia uma temporada de 14 concertos pelos Estados Unidos e Canadá. Em 1996, recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Creta. Em março de 1999, Theodorakis é o primeiro a denunciar as atrocidades da guerra de Kosovo. Em 12 de fevereiro de 2002, Mikis Theodorakis compõe a canção que serviu para marcar a abertura das Olimpíadas da Grécia. Theodorakis está afastado do cinema desde 2000, quando compôs a trilha sonora de UMA COMÉDIA ROMÂNTICA para o cineasta grego John Tatoulis. Desde 2003, Theodorakis tem trabalhado mais para produções televisivas e também para curtas-metragens.

Se o cantor mitológico Orfeu ao cantar para Eurídice emocionava até os animais, a música de Theodorakis atinge qualquer pobre mortal.