TRIBUTO PARA FELLINI.

Enviado por admin em sex, 01/19/2018 - 19:00
Federico Fellini nasceu em Rimini, Itália, no dia 20 de janeiro de 1920. Faleceu em Roma no dia 31 de outubro de 1993 aos 73 anos.  Fellini não foi pai, mas considerava seus filmes como se fosse seus filhos. Puxa, como esses filhos continuam sendo objeto de orgulho e satisfação!

      Quando tomei conhecimento do derrame que acometeu Fellini, pensei tratar-se de mais uma de suas “gags. Certa vez ele se fez passar por louco para ser internado e depois fazer um filme sobre a loucura. Mas a sua morte pôs fim a qualquer expectativa de que tudo não passava de um sonho “junguiano”. A conclusão a que a gente chega é  a de que a culpa é, única e exclusivamente da velhice que acaba sempre pegando a gente de surpresa.

      Fellini costumava dizer que “no decorrer de poucas horas, um dia, uma semana que seja, repentinamente eu me tornei o mais velho! Um pouco de insônia, a memória às vezes falha e uma indisposição menor, me faz cancelar, às cinco da tarde, as festas e bagunças que havia programado pela manhã”. Foi exatamente assim que aconteceu com Fellini, ele visitava a sua Rimini e de repente sofreu um derrame e ....Mas, não falemos mais disso.  Vamos sim, falar de Fellini e de alguns episódios marcantes da sua vida. O cine Fulgor, que Fellini mostrou em alguns de seus filmes, pertence à infância. Lá, no colo do pai, ele assistiu a MACISTE NO INFERNO, isso por volta de 1925.Fellini confessou certa vez que gostaria de fazer um filme sobre o cine Fulgor, contando tudo que acontecia naquele cineminha, onde uma geração inteira  foi condicionada, e em parte protegida, durante os anos do fascismo, por aquelas sombras luminosas que, na tela, contavam  histórias fascinantes, de um país rico, livre e feliz, como era a América.

      Fellini não conseguiu fazer esse filme, mas Tornatore chegou muito perto com o seu CINEMA PARADISO.

      A entrada de Fellini para o cinema aconteceu em 1939, mas, como  diretor sua primeira oportunidade aconteceu em 1950, ano em que eu nasci. Nesse ano, em parceria com Alberto Latuada o saudoso mestre filma LUZES DA CIDADE.

      O lado agnóstico de Fellini e a sua irreverência sobre a religião eram estampados através de frases como “a católica é uma boa religião, ela alimenta o medo, anunciando alguma coisa que o espera, que o observa, o vigia. Se é verdade que por um lado a religião liberta o homem do medo, por outro lado, faz renascer o medo”.

      Em pleno outono de 42, e não no verão, como no filme, Fellini conhece uma moça chamada Giulia Massina com quem mantém um curto namoro, porém longo casamento. Aliás, foi o próprio Fellini quem desenhou o convite de casamento que mostrava duas estradas, tendo cada uma com uma  placa com os respectivos nomes e no cruzamento lá estão  os dois  juntos. ABISMO DE UM SONHO foi o segundo filme de Fellini, porém o primeiro que ele dirige sozinho. Esse filme serviu para selar, de forma definitiva, a amizade entre o diretor e o compositor Nino Rota. Uma curiosidade está em OS BOAS-VIDAS, um filme no qual Fellini invoca a sua Rimini e pela primeira e unica vez, seu irmão Riccardo aparece em cena. Ele tenta a carreira cinematográfica. mas não dá certo.

      Fellini enfrentou muitos problemas com a censura, leia-se igreja, como aconteceu com o filme NOITES DE CABIRIA, cujo censor era um cardeal que, pelo fato de o filme ter sido exibido  à meia-noite  numa sala improvisada de um hotel, deve ter dormido. Tanto foi assim que, ao final da exibição, o cardeal comentou ser preciso fazer alguma coisa por aquela moça, referindo-se a Cabiria, claro!

      A postura de um Fellini “jungniano” teve origem quando um psicólogo, Ernest Bernhard   induziu o diretor a ler vários livros de Jung a depois do filme A DOCE VIDA. A constatação é de que o cinema de Fellini a partir de A DOCE VIDA torna-se onírico.  Parece que ao se despedir da realidade, Fellini   mergulhou num mundo de fantasias e alucinações. Quando concluiu OITO E MEIO, Fellini chegou a confessar, que tendo lido vários livros de Jung, acabou descobrindo em sua visão sobre a vida teve um caráter de gloriosa revelação e extraordinária confirmação de fatos que parecia ter imaginado. Para os adeptos da psicologia, ficaria a curiosidade em conhecer o que pensava Fellini sobre Freud. Certa vez ele saiu com esta frase: “Freud quer explicar quem somos. Jung abre as portas do inconsciente e deixa que descubramos sozinho”. Os filmes de Fellini são sempre carregados de conceitos e visões “junguianas” como OITO E MEIO e JULIETA DOS ESPIRITOS, que foi o primeiro filme colorido do diretor.

      Fellini sempre se cercou de colaboradores assíduos e fiéis, muitos o acompanharam até à morte, outros a morte os surpreendeu no meio do caminho. Desavenças mudaram os caminhos  do roteirista Ennio Flaiano e Fellini. Contudo, bem mais tarde os dois resolveram se reconciliar, marcaram um encontro, mas Flaiano não apareceu. Um enfarto desavisado ceifara a vida do antigo colaborador.

      Nino Rota, musicou a maioria dos filmes de Fellini.Certa feita, quando se preparava para mais um trabalho, seu coração atravessou o ritmo e parou de bater. Entre Fellini e Rota se estabelecia uma integração plena: um sentava ao piano enquanto o outro assoviava a música. Fellini dizia que Rota vivia a música com a facilidade e a liberdade próprias de uma criatura com dimensão que era espontaneamente consciente, e pertencia à esfera da intuição. Se tivesse que escolher uma das trilhas do filme de Fellini, nem pensaria duas vezes e apontaria logo LA STRADA ( A ESTRADA DA VIDA).

      AMARCORD, talvez seja o filme mais cultuado pelos fellinistas, já que os adjetivos para o mesmo indicam a preferência: afável, simpático, simples, delicado, equilibrado e limpo. O filme é, por assim, dizer o álbum de recordações mágicas de um artista que alcançou o ápice da sua arte. Fellini sempre foi feminista. Ele deixou clara sua posição quando de CIDADE DAS MULHERES, que permite uma incursão fantasiosa ultra feminista na defesa da mulher. Quanto ao sonho do personagem Snaporaz, vivido por Marcello Mastroianni, Jung explica muito bem. No embalo de LA NAVE VA está presente o sonho. Só que dessa vez o tema é a derrota e a morte, nesta que foi chamada de fábula funerária. O penúltimo filme de Fellini  A ENTREVISTA é  por assim dizer,  uma espécie de sinopse, balanço suscinto da sua realização,  com destaque para o personagem que encarnou da melhor maneira o que significa ser um tipo felliniano, que é Anita Ekberg.

      Finalmente, a ultima realização do grande mestre que foi A VOZ DA LUA,  realizado  da maneira que ele sempre gostou, ou seja, reproduzindo em estúdio  uma cidade fictícia. O protagonista de A VOZ DA LUA, Roberto Begnini resumiu, numa frase, o significado de toda a realização do mais importante cineasta italiano: “a obra felliniana exerce um dos direitos da arte que é o de não ensinar coisa alguma, mas pode tornar-se amigável o grande mistério que nos cerca e no qual os nossos pequenos mistérios individuais mergulham, se confundem e se aplacam”.

       Aos 73 anos, antes de falecer, Fellini foi objeto de uma merecida e justa homenagem por parte da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que o agraciou com mais um Oscar, que acabou sendo o quarto de sua trajetória vitoriosa de glórias e recompensas.

Federico Fellini nasceu em Rimini, Itália, no dia 20 de janeiro de 1920. Faleceu em Roma no dia 31 de outubro de 1993 aos 73 anos.

Fellini não foi pai, mas considerava seus filmes como se fossem seus filhos. Puxa, como esses filhos continuam sendo objeto de orgulho e satisfação!