No filme CARRIE, A ESTRANHA, dirigido por Brian De Palma, a atriz Sissy Spacek faz o papel de uma garota humilhada pela mãe e também pelos colegas de escola, quando passa a se utilizar de seus poderes paranormais para uma vingança. O filme, baseado no conto de Stephen King, alcançou um grande sucesso e serviu para lançar no estrelato a atriz Sissy Spacek.
A trilha sonora, composta por Pino Donaggio, mostra, a partir do tema principal, uma estrutura bastante diferenciada dos habituais filmes de terror. Donaggio conseguiu imprimir na sua melodia o lado doce que a personagem Carrie ostentava, com isso sua música ganhou um colorido todo especial, valorizando as próprias cenas. Outro recurso importante para alavancar prestígio junto ao grande público foi o do aproveitamento de canções. Nada como um grande especialista para oferecer duas belíssimas canções: “I Never Dreamed Someone Like You Could Love Someone Like Me” e ainda “Born To Have It All”, ambas interpretadas por Katie Irving. As canções assumem um papel muito importante como parte do discurso da narrativa cinematográfica.
Pino Donaggio conseguiu estruturar um trabalho que pudesse assegurar um acompanhamento da narrativa, mas, sobretudo, de respeitar as variações tanto da parte dos diálogos, como também das imagens dramáticas. Esse foi justamente o segredo para que a música de CARRIE, A ESTRANHA assumisse um papel extremamente importante no sentido de encontrar os efeitos desejados. Pino Donaggio nunca escondeu sua grande admiração pelo trabalho do compositor Bernard Herrmann, sendo que em CARRIE, A ESTRANHA, isso pode ser sentido, na presença dos violinos e também dos próprios metais.
Pino Donaggio teve a oportunidade, depois do sucesso da trilha sonora do filme, de fixar residência nos Estados Unidos, o que poderia ter contribuido de forma significativa para mudar o curso da sua carreira de compositor de trilhas. Mas, pensou não suportar a saudade de Veneza, dos amigos e da Itália.
Giuseppe Donaggio ficou consagrado como Pino Donaggio, principalmente depois do feito extraordinário conquistado pelo grande sucesso da canção “Io Che Non Vivo”, com a qual atingiu a olímpica marca de 60 milhões de discos vendidos.
Pino nasceu em Burano, no dia 24 de Novembro de 1941, aos dez anos começou a ter aulas de violino. Ingressou mais tarde no Conservatório Benedetto Marcello de Veneza, complementando os estudos no Conservatório Verdi de Milão. Depois de uma incursão pela música erudita com apresentações em emissoras de rádio na condição de solista, no final dos anos 1950, ele descobre o rock. Foi o Festival de San Remo que deu grande impulso a sua carreira de cantor popular que durou até o início dos anos 1970. Em 1974, ele começa uma nova experiência profissional, de compositor de trilhas, compondo a música para o filme INVERNO DE SANGUE EM VENEZA, dirigdo por Nicholas Roeg, com Donald Sutherland e Julie Christie no elenco.
Em 1975, o cineasta Brian De Palma se preparava para rodar o filme CARRIE, A ESTRANHA e a sua intenção era contar com a trilha sonora de Bernard Herrmann, com quem já havia trabalhado nos filmes IRMÃS DIABÓLICAS e TRÁGICA OBSESESSÃO. Nessa época, Bernard Herrmann se encontrava com sua saúde bastante comprometida, o que o impediu de aceitar o convite do cineasta De Palma. Foi quando surge o nome de Pino Donaggio e com CARRIE, A ESTRANHA nasce uma parceria que renderia outros importantes trabalhos como VESTIDA PARA MATAR, UM TIRO NA NOITE, DUBLÊ DE CORPO e SINDROME DE CAIM.
Donaggio reconheceu que, durante o período que trabalhou com De Palma, ambos tinham uma afinidade e, ao mesmo tempo, a mesma concepção quanto ao aproveitamento da música no contexto da narrativa cinematográfica.
Pino Donaggio trabalhou com importantes nomes da direção cinematográfica como Dario Argento, Michele Placido, Tinto Brass, Giuseppe Ferrara, Pupi Avati, Michael Apted, Joe Dante e muitos outros.
O compositor de trilhas, ao longo da sua carreira, , desenvolveu um estilo que serviu para mostrar a importância da música não só acrescentando, mas, sobretudo, prolongando a emoção de uma determinada cena. Seus antológicos trabalhos como em MORTE NO VATICANO, A VOLTA DO PISTOLEIRO, ATRÁS DAQUELA PORTA, ZELLY E EU, ENCONTRO MARCADO COM A MORTE, DOCE INFIDELIDADE, GIOVANNI FALCONE e muitas outras trilhas soberbas.
Não foi por acaso que Brian De Palma afirmou, certa vez, que Pino Donaggio sempre soube descobrir soluções musicais que pudessem corresponder à sua expectativa, já que ele, como ninguém, sabia manter um toque cordial, de doçura e lirismo valorizando os filmes.
Em 2010, o compositor recebeu o Prêmio de Criatividade Siae, concedido no âmbito da Mostra de Cinema de Veneza, em reconhecimento à contribuição do compositor divulgando o nome da Itália no cenário artístico internacional.