Inegável que o cinema dispõe de um arcabouço de recursos para uma articulação dramática de uma determinada cena. Isso passa desde o cenário, interpretação dos atores, movimentos de câmera, enquadramento nos planos e como não poderia deixar de ser, através da música. Nos filmes épicos, o papel da música mostra-se ainda mais incisivo, principalmente naqueles instantes chamados de agudos, sejam por vitórias em batalhas, ou pelas derrotas. Aclamações e lamentos, tristeza e alegria. A produção de 1958, BEN-HUR, dirigida por William Wyler se constituiu num dos recordistas na festa do Oscar, agraciado com 11 estatuetas, inclusive de melhor trilha sonora original, composta por Miklos Rozsa. O compositor húngaro teve dois meses para trabalhar na trilha sonora do filme, que levou dez meses para ser concluído. O filme original ficou com três horas e trinta e dois minutos, sendo que Rozsa compôs um total de noventa e três minutos e cinquenta segundos da mais expressiva música. Rozsa, que já havia composto músicas para outras produções épicas como QVO VADIS (1951), IVANHOÉ (1952) e JÚLIO CESAR (1953), superou-se neste trabalho. A partir da Overture, o compositor prepara o espectador para as grandes emoções que estariam reservadas ao longo da produção. Rozsa deixa extravasar toda sua veia clássica, já que o próprio momento criativo que vivia naquela época acabou ensejando composições eruditas da mais alta qualidade. O Prelúdio de BEN-HUR tem ímpeto sinfônico com apoteótica capacidade descritiva da história narrada. “Marcha Romana” um dos pontos altos do filme, o desfile das bigas que estarão duelando no Coliseu, nos remonta ao clima do Império Romano. O “Tema de Amor” de BEN-HUR representa para Rozsa a oportunidade de mergulhar no passado da sua Hungria. Os acordes têm todo o contorno das rapsódias impregnadas pelo estilo de música que povoou a sua infância, seja tocando violinos com ciganos, seja observando os trabalhadores do campo.
Outro momento expressivo na trilha é o “Tema de Cristo”, um ofertório embalado pelo estilo épico da trilha sonora. Na música final “Milagre e Final”, temos uma apoteótica participação da orquestra, destacando os metais, cordas, sinos e o coro realçando a musicalidade, fechando de forma sublime com o tema principal de BEN-HUR.
A música de Miklos Rozsa para BEN-HUR está presente nas salas de concerto, executada pelas mais renomadas orquestras, numa comprovação inequívoca que além do filme, ganhou vida própria pela beleza e expressividade. Rozsa era sem sombras de dúvida um gênio. Na marcha angustiante dos remadores em BEN-HUR, Rozsa usou os tambores sincopados que determinam a velocidade das caravelas que irão de encontro ao inimigo na famosa cena da batalha naval.
Uma trilha sonora antológica para um dos épicos mais importantes da história do cinema.