Quando CASABLANCA foi lançado nos Estados Unidos havia mais de 15 mil cinemas, que recebiam mais de 50 milhões de espectadores por semana. A indústria cinematográfica era a 11a colocada no contexto da economia americana. Os produtores de Hollywood procuravam nos bastidores criar fatos e levar impacto junto à opinião pública, antes mesmo de um filme ser rodado. Por exemplo, com relação ao filme CASABLANCA, o papel que foi de Humphrey Bogart estava para ser entregue a Ronald Reagan, tudo por uma imposição de contrato, mas que posteriormente apurou-se que era uma jogada de marketing.
O filme teve grande sucesso, mas as filmagens foram marcadas por episódios rigorosamente conflituosos, o ambiente de incertezas no set de filmagens foi gerado pela indefinição e improviso que deixava até mesmo Ingrid Berman angustiada, já que ela não sabia nem ao menos com quem ficaria no final, se com Bogart ou Henreid. O esquema do filme parecia novela de televisão, já que no próprio dia da filmagem o diretor Michael Curtiz distribuía os diálogos das cenas que seriam gravadas. Moral da história, praticamente ninguém sabia qual o rumo que o filme tomaria, até o título foi questionado. Houve quem achasse que o nome mais parecia marca de cerveja. Mas, para uma jogada publicitária, o nome Casablanca foi mantido, principalmente por que 45 dias antes da estréia uma armada anglo-americana desembarca ao longo da costa da África, sendo Casablanca uma das cidades tomadas.
A música, esta sim se tornou marcante, embora o compositor Max Steiner tenha deixado claro que odiava a canção “As Time Goes By”. Naquela época, a canção era um recurso extremamente importante no contexto da narrativa cinematográfica. Ela, em determinadas circunstâncias, tinha um papel relevante quanto a contribuir para um clima de maior dramaticidade numa determinada cena. Nesse sentido, “As Time Goes By” possuía todos os quesitos para ter-se transformado num ícone do romantismo e ficar profundamente identificada com o filme, já que sua letra tinha a capacidade de substituir qualquer diálogo entre os personagens diretamente envolvidos com a canção no caso Rick (Bogart) e Ilsa (Bergman). A descrição da história, por meio da canção, serve para marcar a relação amorosa entre os personagens Rick e Ilsa, que vivem uma intensa paixão, que acaba interrompida por um golpe de um passado recente. Esta canção, de autoria de Herman Hupfeld, ao contrário do que muitos poderiam imaginar, já existia antes do filme e seu aproveitamento deveu-se, principalmente, pelo fato de que as canções tinham um peso muito importante dentro da própria linha de narrativa da história. Outras canções também foram aproveitadas em CASABLANCA como “Knock on Wood” e “Dat’s What Noah Done” de autoria de M.K. Jerome e Jack Scholl. Além disso, no aspecto instrumental, aproveitou-se “Of All the Gin Joints In all The Towns In All the World” de autoria de Frank Perkins, funcionando como fundo musical para o diálogo entre Rick (Humphrey Bogart) e Sam (Dooley Wilson) no Ricks Bar. De qualquer maneira, o trabalho de Max Steiner, compondo o score para CASABLANCA, contribuiu para oferecer um contorno musical da mais alta expressão. O tema de abertura do filme, como já era característico no trabalho de Max Steiner, promove uma fusão de vários acordes começando pelo próprio prefixo musical da Warner, além de uma música árabe numa citação ao Marrocos, país onde se situa a cidade de Casablanca.
Para inserir os espectadores na história que seria contada, surge a voz em off de um narrador, num tom jornalístico, fazendo referência aos fatos históricos. A música, nesse momento, assume um caráter não só de acompanhamento, mas de estimulador da dramaticidade emanada da própria narrativa do locutor. A presença de acordes de “La Marseillaise” na trilha do filme procura assumir um aspecto nacionalista da França não só quanto ao palco das cenas que desencadearam desdobramentos em Casablanca, como também para o fato histórico que o Marrocos foi protetorado francês.
Mas, sem dúvida, o aspecto mais marcante da trilha sonora fica para a canção “As Time Goes By”, talvez isso justifique o fato de o compositor Max Steiner ter assumido odiar a canção. Claro, ela assumiu o papel mais importante da trilha sonora, sendo reconhecidamente o fator mais evidente de identificação do filme. Um fato curioso é que a frase atribuída à Bogart: “Play it Again, Sam” na realidade nunca foi proferida. Ela transformou-se no título do filme de Woody Allen, PLAY IT AGAIN, SAM traduzido no Brasil POR SONHOS DE UM SEDUTOR, no qual ele faz um crítico de cinema que nos momentos de tristeza por um amor perdido é auxiliado pelo fantasma de Humphrey Bogart de CASABLANCA. Já Ilsa (Ingrid Bergman) essa sim, pede para Dooley Wilson: “play it Sam, play As Time Goes By”. Seguramente, CASABLANCA talvez tenha sido um dos poucos filmes que conseguiu polarizar a atenção do espectador para que este ouvisse a canção atentando para a letra que estava profundamente identificada com a história.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood indicou CASABLANCA para concorrer em sete categorias do Oscar, mas o filme conquistou apenas três estatuetas, respectivamente: Melhor Filme, Melhor Direção (Michael Curtiz) e Melhor Roteiro (Julius Epstein, Philip Epstein e Howard Koch). O compositor Max Steiner concorreu ao Óscar de Melhor Trilha Sonora com dois trabalhos: CASABLANCA e DESDE QUE PARTISTE. Por mais paradoxal que possa parecer a decisão da Academia, o Óscar ficou para a trilha sonora do filme DESDE QUE PARTISTE, que perdeu em fama para CASABLANCA. Porém, comparando as duas trilhas, temos que concordar que a música de DESDE QUE PARTISTE, pelo seu conjunto original, é muito mais bonita, já que em CASABLANCA, foi imortalizada a canção “As Time Goes By” que nem era de autoria de Max Steiner.
Por tudo isso, a música de CASABLANCA torna-se rigorosamente inesquecível para os amantes da sétima arte. A Turner Classic Movies lançou no mercado o CD contendo a trilha sonora completa, inclusive com diálogos principais do filme.