A VIDA É BELA é uma fábula cujo sabor amargo em tratar o assunto campo de prisioneiros judeus é transformado de forma bem humorada por um pai feito prisioneiro com o filho pequeno, fazendo com que a criança tenha a sensação de que tudo não passa de uma grande brincadeira. Uma versão bastante diferente para se falar sobre a perseguição de judeus na Itália. O filme é dirigido e protagonizado por Roberto Begnini que tem ainda sua esposa Nicoletta Braschi no elenco. A trilha sonora que ganhou o Óscar foi composta por Nicola Piovani iniciando uma colaboração que seria complementada através de PINOCCHIO (2002) e O TIGRE NA NEVE (2005).
Nicola Piovani celebrou grandes parcerias com destacados nomes da direção cinematográfica como Marco Bellocchio, Vittorio e Paolo Taviani, Mario Monicelli, Nanni Moretti e Federico Fellini. Também trabalhou com cineastas estrangeiros como Bigas Luna, Jos Stelling, John Irvin e muitos outros.
Além do Óscar por A VIDA É BELA, Piovani conquistou o Nastro D’Argento pelas trilhas para Ginger e Fred de Federico Fellini e ainda dois filmes de Nanni Moretti, CARO DIÁRIO e O QUARTO DO FILHO.
O compositor Nicola Piovani também tem trabalhado para o teatro. Com seus conjuntos musicais tem feito inúmeras apresentações pelo interior da Itália e também Europa. A rigor, por ocasião dos concertos realizados nas mais distintas localidades italianas, Piovani descobriu o verdadeiro lado da cultura italiana que não é a mesma mostrada pela realidade virtual. O compositor ressalta a importância do envolvimento de uma comunidade na realização de um evento cultural.
Ao longo da sua trajetória de compositor de trilhas sonoras para o cinema, Nicola Piovani se revelou como um grande especialista em elaborar músicas de contraponto que é aquela que reúne a capacidade de expressar melodicamente o que a imagem não consegue mostrar e o personagem não diz, mas que de alguma forma está contida na história contada.
Ele é um compositor que a cada trabalho surpreende seus admiradores pela força de uma melodia que, mesmo desatrelada do filme, tem vida própria, sentimento e, sobretudo, beleza.
Além dos célebres trabalhos reconhecidos pelo público e laureado pela crítica, vale o registro para alguns de seus trabalhos particularmente especiais. O primeiro deles é a sua colaboração para a cineasta argentina Maria Luisa Bramberg em DI QUESTO NON SI PARLA. A música para a personagem Charlote abriga parte do tema principal, mas revela uma beleza rigorosamente inenarrável. O som do oboé ecoa no fundo da alma. BOM DIA BABILONIA, dos irmãos Taviani, trilha em que mais uma vez Piovani nos cativa com o tema principal. A melodia tem a capacidade de permitir que aflore determinados instintos como de superação e descoberta, tão necessários para explorar a potencialidade humana. FLÁVIA, A FREIRA MUÇULMANA, um filme feito para a televisão que mostra a opressão religiosa e repressão sexual como instrumentos de violência. O filme é estrelado pela brasileira Florinda Bulkan. A música de Piovani pontua muito bem os temas propostos pelo filme, mas a capacidade melódica é revelada a partir do tema “Flávia dos Turcos” o som da flauta fala da suavidade da personagem.
O filme O HOLANDÊS VOADOR, do cineasta Jos Stelling tem uma trilha sonora que prova que a boa música não se resume num mero prazer de contemplação sonora. A música de Piovani nos traz significados explícitos que ficam povoando a nossa imaginação.
O compositor me faz lembrar um alfaiate, pois com sua capacidade ele nunca teve que ficar constantemente conferindo as medidas do seu trabalho produzido porque sua capacidade criativa é geométrica e com potencial de produzir aquilo que o filme precisa e que o cineasta confia ter ficado sob medida. A música de Nicola Piovani é um desdobrar das asas da alma e ao mesmo tempo em que desperta a realização dos nossos sonhos.