A BÍBLIA foi uma produção que resultou num fiasco financeiro, não obstante uma direção competente e atuação convincente de John Huston. Numa entrevista ao crítico francês Michel Ciment, Huston afirmou que havia convidado Charles Chaplin para interpretar Noé, diante da negativa ainda tentou Alec Guinness que também declinou do convite, por fim o papel coube ao próprio diretor acumulando funções. O elenco tem ainda a presença de Peter O’Toole.
A trilha sonora foi confiada ao compositor japonês Toshiro Mayuzumi, pouco conhecido que havia iniciado sua trajetória no cinema na década de 1950. O cineasta John Huston assistiu a um documentário japonês feito sobre Olimpíada de Tókio de 1965, e ficou impressionado com o vigor musical apresentado por Mayuzumi. Assim nasceu a única possibilidade do compositor trabalhar fora de seu país produzindo uma trilha sonora simplesmente soberba para o filme A BÍBLIA. Se por acaso, ao invés de convidar Mayuzumi, o diretor John Huston tivesse a mesma iniciativa de Stanley Kubrick, em 2001, em UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO, fazendo uma seleção musical, por certo ele poderia escolher, por exemplo, a “Sinfonia do Novo Mundo” de Anton Dvoräk, ou quem sabe a “Sinfonia dos Planetas” de Gustav Holst. Com certeza, nem mesmo essas duas peças respeitadas seriam capazes de temperar tão bem as cenas de A BÍBLIA, quanto a música composta por Toshiro Mayuzumi.
As etapas da criação do mundo são marcadas por um desenvolvimento musical de uma fantasia transbordante para cada um dos sete dias da criação do mundo.
Já a marcação melódica da criação das estações do ano, em nada lembra Vivaldi, mas servem para que lembremos um pouco da obra de Bernard Herrmann.
Na cena em que Deus avisa Noé para que este construa uma arca, a música tem um pouco do efeito chamado de mickeymouse, mas os acordes auxiliam em muito a própria expressão corporal de John Huston interpretando Noé.
A melodia, criada a partir de um flautim para a cena da entrada dos animais na arca, não poderia ser mais compatível.
Quando depois do dilúvio, a arca vai parar no topo das montanhas Ararat, o solo de oboé sinaliza para uma nova era.
A música final de A BÍBLIA tem toda a aura característica dos grandes épicos produzidos pelo cinema como O MANTO SAGRADO e OS 10 MANDAMENTOS. A trilha sonora de Toshiro Mayuzume foi indicada para os dois principais prêmios do cinema, Óscar e Globo de Ouro.