O filme UM PEQUENO ROMANCE, dirigido por George Roy Hill, mostra dois jovens que se apaixonam e conhecem um senhor, que conta a eles a lenda do casal veneziano que se beijaram numa gôndola na Ponte dos Suspiros, no cair da tarde, ao som dos sinos do campanário, que seria o sinal do amor eterno. Uma doce fábula de amor que é valorizada pela presença talentosa de Laurence Olivier, mas o que vale mesmo é a inspirada trilha sonora de Georges Delerue.
Mais uma vez o compositor francês coloca sua capacidade melódica para produzir uma partitura que contribui em grande parte para valorizar a própria realização cinematográfica. Como o palco marcante do filme é Veneza, nada melhor do que uma inspiração vivaldiana para marcar a trilha sonora, assim sendo, Delerue também se apoiou na música do grande mestre veneziano da música barroca.
A música, concebida para temperar as cenas em que aparece o jovem casal Lauren (Diane Lane) e Daniel (Thelonious Bernard), tem um soberbo solo de violão revelando todo um clima de extremo romantismo. Acordes suaves e melodiosos marcaram esta trilha absolutamente singular no conjunto da realização de Georges Delerue para o cinema.
A trilha sonora de UM PEQUENO ROMANCE valeu para Georges Delerue o único Óscar conquistado por sua gloriosa carreira. Compositor de renome internacional servindo para projetar, mais uma vez a notória capacidade dos compositores franceses quanto à música no cinema. Delerue nasceu na pequena localidade ao norte de Paris chamada Roubaix, no dia 12 de março de 1925. Oriundo de uma família muito pobre, desde cedo ele teve que abandonar os estudos para trabalhar numa fábrica para ajudar na renda mensal. Ele aproveitava as poucas horas de folga para estudar música e tocar clarinete. Devido a um acidente que afetou a sua coluna cervical, ele não pôde continuar trabalhando, mas seus pais perceberam que o jovem tinha um talento extraordinário para a música e fizeram de tudo para que ele pudesse então iniciar os estudos de piano. A formação musical de Delerue foi construída a partir da sua graduação no Conservatório de Paris, onde ele foi aluno de dois grandes mestres Henri Busser e Darius Milhaud. As suas primeiras composições foram para o teatro, em que começou a demonstrar o seu enorme talento. Mais tarde, acabou cruzando o caminho do cineasta François Truffaut que lhe abriu as portas do cinema. Ele começou no cinema na condição de regente, em 1955, posteriormente, teve as primeiras oportunidades não só no cinema como na televisão para mostrar seu talento de compositor. O seu primeiro trabalho de relevo foi a música do filme de Alan Resnais HIROSHIMA MEU AMOR, de 1959. Mas foi a parceria com Truffaut que deu o grande impulso na carreira de Delerue. Não poderíamos deixar de fazer referência a trilhas soberbas de Delerue para os filmes de Truffaut como O ULTIMO METRO, A MULHER DO LADO, DE REPENTE UM DOMINGO e A NOITE AMERICANA.
O compositor cativava os cineastas através de trabalhos como Mike Nichols, em O DIA DO GOLFINHO e SILKWOO - O RETRATO DE UMA CORAGEM. Com Oliver Stone em PLATOON e ainda SALVADOR - O MARTÍRIO DE UM POVO.
Referência obrigatória para outras trilhas exuberantes compostas por Georges Delerue como: ANA DOS MIL DIAS, O CONFORMISTA, PROMESSA AO AMANHECER, RICAS E FAMOSAS, CRIMES DO CORAÇÃO, A REVOLUÇÃO FRANCESA e ainda HÁBITO NEGRO.
Ao longo de sua carreira de compositor de trilhas, Georges Delerue foi agraciado com os prêmios mais importantes do cinema como o César, que é o Óscar da França, também teve partituras premiadas em Cannes, Veneza, Berlim e claro, como não poderia deixar de ser o ambicionado Óscar pelo seu trabalho para o filme UM PEQUENO ROMANCE.
Foram mais de 340 trilhas compostas ao longo de mais de quarenta anos dedicados à música no cinema. Georges Delerue faleceu em 20 de Março de 1992, aos 67 anos, em Los Angeles, EUA, vítima de um ataque cardíaco. Uma perda irreparável, num momento de grande efervescência criativa de sua carreira.